Salvas as exceções,
todos nós temos uma concepção de cunho cultural sobre a pregação pentecostal
histórica, ou seja, aquela prática de oratória marcada por um fervor e
dinamismo característicos. O advento do neopentecostalismo parece ter
“elitizado” a mentalidade homilética de nossa geração, reputando os pregadores
barulhentos como retrógrados e emocionalistas. Leia o pequeno texto à seguir:
"Que imagens lhe vêm à mente quando ouve
a frase pregação pentecostal? Eu ouço um som, como de um vento veemente e
impetuoso, que enche todo o auditório. A eletricidade crepita no ar e
desenvolve-se em um crescendo ascendente de fogo. Envia um tremor pelos braços
e pernas daqueles que estão se equilibrando na ponta do assento, com as faces
extasiadas pelas palavras inspiradas do pregador. O pregador? Ele está
transpirando abundantemente pelo esforço de pregar, com os cabelos e a gravata
em desalinho, o rosto alternadamente esbraseando-se e retorcendo-se, as
palavras disparando da boca tão rápidas quando possíveis de serem pronunciadas.
Há um fogo ardendo em seus olhos, um reflexo do fervor pentecostal encravado
nele pelo Espírito Santo. As palavras do pregador são divinamente inspiradas,
fáceis de entender, poderosas no contexto. Têm o poder de atirar uma flecha que
atinge em cheio o coração do pecador até que este se dobre em agonia, clamando
pelo perdão divino. Isso é pregação pentecostal." (texto de Ernest J. Moem).
O texto acima reflete muito bem o
modelo clássico de pregador e pregação pentecostal, e cremos que as
características desse modelo não podem ser substituídas pelo formalismo de
“pregadores pentecostais” demasiadamente intelectualizados que trocaram os
joelhos pelos diplomas. Extinguir este modelo de pregação em nome de uma
contextualização temporal e cultural é literalmente apagar a chama do Espírito.
Há, porém, uma denominação pentecostal
histórica (aliás, a 1ª denominação pentecostal do mundo) que conserva esta
singularidade da pregação pentecostal clássica como era no início do século XX
no Movimento Holiness afro-americano e na Missão da Fé Apostólica; me refiro à COGIC (Church
Of God In Christ) Igreja de Deus em Cristo, a Igreja da Santidade.
Um pregador típico da COGIC é a
“criatura mais eletrizante” que existe. Estas são algumas características
oratórias de um genuíno pregador COGIC:
SERMÃO ESPONTÂNEO E NÃO TÃO DEPENDENTE
DE ESBOÇO
Isto não significa que o pregador COGIC
não segue uma linha fundamental de raciocínio, ou que despreze a elaboração
prévia de seu sermão, ele simplesmente é mais dependente do Espírito Santo do
que de seu esboço (Mt 10:20).
VEEMÊNCIA PROFÉTICA NA APRESENTAÇÃO DE
VERDADES ETERNAS
O vociferar vibrante da voz do pregador
COGIC ocorre no ápice de exortações proféticas à audiência, isto está ligado à
sua eloqüência quase poética que confronta a religiosidade e as motivações das
pessoas.
SENSIBILIDADE À MANIFESTAÇÃO DA PALAVRA
DE CIÊNCIA
Não é raro o pregador COGIC em algum
momento de sua prédica ministrar em revelação situações particulares dos
ouvintes, coletiva ou individualmente. Os dons do Espírito Santo fluem muito
comumente.
MOVIMENTAÇÃO CORPORAL E FACIAL
EXPRESSIVA COERENTE COM AS VERDADES APRESENTADAS
O pregador COGIC tende a ser dramático
em sua ministração, isso, porém, não como uma encenação vazia e hipócrita, mas
como uma manifestação cultural de sua expressão da verdade, ou seja, ele prega
assim porque ele é assim.
APELO AO ALTAR EM RESPOSTA À MENSAGEM
APRESENTADA E ORAÇÃO DE FÉ
O pregador COGIC como um evangélico
clássico, não despreza uma decisão e posicionamento do ouvinte diante da
verdade exposta; ele não pregará sobre cura sem conclamar os enfermos para o
altar, não pregará sobre libertação sem conclamar os oprimidos, não pregará
sobre salvação e arrependimento sem conclamar os perdidos.
A MUSICALIDADE NA ORATÓRIA DOS
PREGADORES DO PENTECOSTALISMO AFRO-AMERICANO (Ef 5:19)
Sendo uma igreja tradicionalmente
pentecostal é muito comum encontrarmos na Igreja de Deus em Cristo pregadores
que são de terceira ou até mesmo quarta geração na igreja, e, por sua vez,
aprenderam e desenvolveram seu estilo de pregação, vendo seus pais e pastores
desde criança pregarem uma mensagem viva e fervorosa.
Ainda no Avivamento da Rua Azusa era
comum o Espírito Santo guiar o líder do culto para informar um irmão, segundos
antes, que era ele quem devia trazer o sermão. O que depois do derramar do
Espírito Santo, tornou-se em, além de atividade sagrada, um estilo de arte.
O fervor vem sem dúvidas, da vida do
Espírito que fora derramada sobre o pregador, mas a melodia vem certamente da
influência da escravidão, da musicalidade particular dos negros, o que se
tornou um estilo não somente na Igreja de Deus em Cristo – apesar de ser uma das
mais tradicionais desde seus dias pós avivamento – mas em muitas outras igrejas
e denominações pentecostais norte-americanas, dentre elas algumas brancas.
A pregação na Igreja de Deus em Cristo
é vista como a parte principal do culto, quando Deus fala. O pregador prepara
seu sermão, mas já está claro desde o início da mensagem que o fim dela pode
exigir o que a história chama de chamada-e-resposta nas igrejas de origem
negra. O pregador não somente prega para o público, como o faz juntamente com
ele. Ouvir palavras de apoio da congregação, tais como, “prega!”, “sim, sim”,
“ajuda, Senhor”, dentre muitos outros, não são de se admirar.
Concernente à melodia, o pregador da
Igreja de Deus em Cristo, muitas vezes até sem o devido conhecimento musical,
trás uma bagagem cultural que de forma natural o leva a ser repetitivo em
frases de efeito, construído sobre o hemistíquio (cada metade de um verso,
separada pela cesura, normalmente associado a versos longos) sua rítmica de
pregação, usando o que musicalmente se conhece como escala pentatônica, que é a
base para grande parte dos estilos musicais de origem negra, como o blues e o
gospel. O pregador constrói sua mensagem com introdução, exemplos,
interação com o público, e geralmente, uma conclusão com que chamam de
whoop (brado, grito, exclamação), que geralmente se faz acompanhar de
melodias construídas com a escala pentatônica, acompanhado por um bom organista.