Introdução
A forma de alguém expressar sua crença e se
relacionar com o sagrado é chamado espiritualidade. Cada seguimento cristão
possui sua espiritualidade, mas nenhum grupo da cristandade manifesta uma
espiritualidade mais vibrante e relevante do que o Movimento Pentecostal, e em
especial a Igreja de Deus em Cristo. O pentecostalismo resgatou a ênfase na
obra do Espírito Santo na Igreja, tanto em sua operação interior (no coração),
quanto na exterior (no ministério). Destacamos aqui pelo menos cinco aspectos
característicos da espiritualidade pentecostal.
1.
ANELO E BUSCA POR VIDA PIEDOSA
Desde os seus primórdios, a Igreja de Deus em Cristo
tem primado pela vida santificada e a separação da contaminação do mundo. Esta
é uma característica imutável do pentecostalismo que nasceu á partir do
Metodismo e do Movimento de Santidade norte-americano.
A melhor palavra bíblica para expressar a verdadeira
religiosidade e espiritualidade, é piedade.
Um verdadeiro pentecostal não atribui a obra da santificação exclusivamente ao
Espírito Santo, mas ele mesmo se santifica (Hb 12:14), exercitando sua piedade
(1 Tm 4:7-8). Nossa crença equilibradamente arminiana, nos condiciona a uma
constante busca pela santidade e santificação. E sabemos que a mesma é uma obra
primariamente do Espirito de Deus, mas com nossa participação através do
atributo livre arbítrio. Não nos amoldamos aos valores deste mundo (Rm 12:2)
caído (1 Jo 2:15-17), mas rumamos para a perfeição (Mt 5:48).
2.
OS CARISMAS NA EXPERIÊNCIA COTIDIANA
Outras denominações não pentecostais
têm aderido à obra do Espírito concernente aos dons, dando liberdade para
alguns privilegiados fluam nestes dons. A verdadeira igreja pentecostal não é
assim, nela, todos participam da operação sobrenatural do Espírito. Não existe
um “monopólio” da unção por parte de líderes espirituais, fazendo separação
entre “clérigos e leigos” neste quesito. Tão pouco, essas manifestações estão
restritas à liturgia ou ao momento do culto. Uma genuína igreja pentecostal
equipa os santos para a obra do ministério (Ef 4:11-13), e os prepara e ativa
(2 Tm 1:6) para exercer os dons espirituais em seu contexto social, nos
ambientes acadêmico, profissional e familiar. Pentecostais profetizam, curam e
libertam em qualquer lugar, não só no templo. (At 3:1-8; 9:32-34; 36-42; 14:8-10;
16:16-18).
3.
ELEMENTOS EXTÁTICOS NO CULTO
Pentecostes trouxe consigo a transcendência do
culto, ou seja, o elemento místico foi resgatado. A experiência pentecostal vai
além da razão, pois, apesar de reconhecermos que o culto é racional (Rm 12:1),
também asseveramos que ele não está destituído do elemento emocional que é
parte da natureza humana. Apesar de o espírito humano lhe estar sujeito à razão
(1 Co 14:32), a experiência pentecostal nos concede a ferramenta para
experimentarmos deliberadamente o êxtase: “Porque,
se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu
entendimento fica sem fruto.” (1 Co 14:14). Não há dúvidas de que tanto na
Antiga Aliança, quanto na Nova Aliança, este elemento extático está presente e
tem validade doutrinária (Nm 24:4, 14; 1 Sm 10:10-11; At 10:10; 11:5). A
diferença básica do êxtase é que no A.T. o Espírito de Deus se revelava
soberanamente à alma humana, pois seu espírito estava morto na realidade do
Pecado, já no N.T. o êxtase acontece pela obra direta do Espírito Santo no novo
espírito recriado e vivo dos filhos de Deus, através da piedade devocional de
orações, louvores, jejuns... (ler textos
acima). Mas é importante ressaltar que a Bíblia não orienta a busca do
êxtase, e em ambos os casos, é sempre uma concessão soberana de Deus.
Jamais se trata de uma “possessão”, como se dá na
obra de demônios; pois Nosso Senhor não viola o livre arbítrio e é gentil em
propor. “Eis que estou à porta, e bato;
se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele
cearei, e ele comigo.” (Ap 3:20)
No culto pentecostal, há normalmente um nível de
êxtase experimentado pelos adoradores mais contemplativos e/ou emotivos. Isto
produz as manifestações de reação à presença do Espírito Santo, como dançar,
correr, pular, cair, realizar movimentos extravagantes, produzir sons
diferentes... Nada disso é um tropeço para a obra do Espírito, desde que
regulados pela Escritura e pelo bom senso (1 Co 14:40). Aliás, na história dos
reavivamentos, extremos dessas manifestações estavam sempre presentes, e eram
chamados pelos mais conservadores de “defeitos do avivamento”. John Wesley por
exemplo orou dizendo: Senhor, manda-nos o
antigo avivamento sem seus defeitos; mas, se não for possível, manda-o de volta
com todos os seus defeitos. Precisamos de um avivamento!
O Movimento Pentecostal veio como mais do que uma
alternativa denominacional, mas sim como uma resposta à orações como as de
Wesley.
4.
A NATUREZA PROFÉTICA DESSA ESPIRITUALIDADE
Uma das mais importantes e relevantes manifestações
restauradas no pentecostalismo foi o dom de profetizar, que embora não se trata
apenas da pregação da Palavra e nunca houvesse sido extinto como dizem os
cessacionistas, apareceu esporadicamente ao longo dos séculos após o terceiro século
da Igreja.
Na espiritualidade pentecostal, o dom da profecia
não está restrito ao clero, nem tão pouco ao templo. O verdadeiro pentecostal é
sempre um vaso disponível para ser a boca de Deus para o próximo, e reconhece
que a vontade de Deus é que todos profetizem (Nm 11:29; 1 Co 14:5). No entanto
é importante reconhecer que nem todo aquele que profetiza é um profeta de
ofício (Ef 4:11), mas todo profeta possui o dom de profecia (At 11:28; 21:10).
Profetizar é mais do que explanar as Escrituras, é
uma ação sobrenatural do Espírito Santo que inspira homens, mulheres e até
crianças a falar de forma inteligível o que está na mente de Deus. É um
“borbulhar” espontâneo e espiritual de verdades divinas para uma pessoa ou para
um grupo, neste segundo caso, a profecia ser proferida por um indivíduo de cada
vez (1 Co 14:31).
O povo pentecostal leva muito à sério a necessidade
de buscar este dom para a edificação da Igreja, e a isto Paulo exorta a fazer
com zelo: “Segui o amor, e procurai com
zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar... Portanto,
irmãos, procurai, com zelo, profetizar...” (1 Co 14:1, 39).
Conclusão
Piedade, dons, êxtase, profecia... A espiritualidade
pentecostal está cheia de riqueza divina, que deve ser devidamente compreendida
para não ser elemento de escárnio ou de descrença. Precisamos boicotar qualquer
forma de chocarrice (Ef 5:4) na imitação deliberada de nossa rica e santa
espiritualidade. Aquilo que é santo não pode ser irresponsavelmente profanado,
e disto devemos como genuínos pentecostais clássicos, ser vigias fervorosos.
A espiritualidade pentecostal é melhor resposta
para uma cristandade seca e meramente teórica.