terça-feira, 30 de julho de 2013

O SUSTENTO DO EVANGELISTA


Poucas coisas têm causado mais danos à credibilidade dos verdadeiros ministros de tempo integral quanto este moderno “comércio da fé”, em que pregadores estipulam seus cachês por mensagem. Talvez, você que esteja lendo esta postagem, considere tão normal esta atual configuração de “negócios eclesiásticos”, que possa estar dizendo: “Mas qual o problema em fechar a oferta do pregador?” Na verdade, não há nenhum problema em se fechar a oferta do pregador, o problema é no mínimo triplo: (1) O pregador que estipula o valor de sua oferta; (2) Os valores absurdos cobrados por certos pregadores; (3) O depósito prévio do valor da oferta para garantir a presença do pregador.
         Observe as palavras do apóstolo Pedro: “e, por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita. Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo...” (II Pe 2:3-4). Pedro, com clarividência profética prevê o aparecimento desses pregadores avarentos, cujas palavras são bonitas e até verdadeiras, porém, sua motivação interior é vil e hipócrita, persuadindo as pessoas com a mente no cachê ao final de seu discurso; estes, segundo as palavras divinamente inspiradas de Pedro, serão duramente sentenciados.
         Com raras exceções, muitas igrejas e pastores se tornaram reféns dos pregadores que cobram para pregar; estas igrejas estabeleceram verdadeiros “fãs clubes” de pregadores “mega star”. Alguns pastores que não acreditam em sua própria vocação, se sentem exacerbadamente dependentes destes mercenários para atrair seu próprio rebanho; é evidente que pastores precisam do apoio ministerial de evangelistas sérios e comprometidos com o Reino de Deus para conduzirem cruzadas periódicas e reavivamentos locais, e estes sim são dignos de receberem grandes ofertas da Igreja, pois não as cobraram; porém, uma igreja não pode viver de eventos extraordinários, ela precisa do alimento espiritual cotidiano fornecido pelo anjo da Igreja, o Pastor O ministério do Evangelista para a Igreja Local, é uma “iguaria fina”, que não existe para ser consumida 365 dias por ano, mas em ocasiões especiais esporádicas.

         A negociação para pregar o evangelho é feita mais ou menos assim: O pastor liga e diz: “Quanto você COBRA para pregar na minha igreja?” E recebe como resposta: “Irei pregar por um valor "X", e dinheiro adiantado se não nada feito!” O pastor responde perguntando: “Quanto pagarei?” O pregador responde dizendo: “Olha amado, o senhor sabe que para sustentar um “HOMEM DE DEUS” não é tão barato, portanto, eu cobro (5.000,00) por mensagem; e olha o senhor fecha logo o contrato porque a minha AGENDA é cheia se o senhor não quiser tem muitas outras igrejas que querem; aliás, eu não tenho nem muito interesse em ir ai, mas, como é para o senhor ou vou neste preço; o pastor da uma pensada em trinta segundos e responde NEGÓCIO fechado.
         Tudo isso não soa muito estranho pra você? Mesmo considerando as palavras de Jesus ao comissionar seus primeiros pregadores itinerantes?: “e, indo, pregai, dizendo: “É chegado o Reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os dmônios; de graça recebestes, de graça dai.” (Mt 10:8).
         Com embasamento em pesquisa realizada pelo Pr. Joanyr França, podemos cotar os valores do atual mercado da “PREGAÇÃO GOSPEL”:

A – 150.000,00 (pregadores importados dos Estados Unidos que pregam sobre a teologia da prosperidade)

B – 80.000,00 (pregadores vindo da Europa são mais baratos porque segundo eles o cristianismo na Europa esta em baixa)

C – Brasil: Brasil é o celeiro dos PREGADORES GOSPEL onde eles chegam a faturar livre 80.000,00 mensal. Mas os preços não são fixos, existe uma variação; mas o mínimo fixado por eles é 3.000,00 por mensagem; os valores variam porque os PREGADORES GOSPEL estão divididos em TRÊS CATEGORIAS:

1- Pregadores ASTROS: São os de primeira classe, os famosos que exigem ALTOS CACHÊS, só hospedam em hotel CINCO ESTRELAS, não pregam em igrejas pequenas e para grupos pequenos. Cobram de 10.000,00 a 50.000,00 por mensagem.

2-  Pregadores ESTRELAS: É uma classe de pregador que não divergem muito dos astros, a divergência é apenas em relação aos valores cobrados que variam de 5.000,00 a 25.000,00 por mensagem.

3- Pregadores ASPIRANTES: São aspirantes ao posto de estrela e astro, estão no mesmo caminho deles, e como ainda não chegou ao degrau superior, têm as mesmas exigências das outras duas classes, porém, cobram mais barato, algo em torno de 3.000,00 a 15.000,00 por mensagem (texto do Pr. Joanyr França).
         A piedade não é causa de ganho (I Tm 6:5-6).

         Na verdade, o dano desses pregadores mercenários não seria tão nocivo somente pelo aspecto financeiro ou por sua motivação impura, pois consolado acerca desses homens, o apóstolo Paulo escreve: “Verdade é que alguns também pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa mente; uns por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; mas outros, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me regozijarei ainda.” (Fl 1:15-18). Note que Paulo se conforma com os falsos pregadores enquanto sua mensagem é verdadeira, mas outro problema tem ocorrido entre esses pregadores “caros”, a propagação de heresias e formação de uma mentalidade espiritual popular fraca. Vejamos pelo menos cinco problemas na mensagem para identificarmos esses pregadores duvidosos:

1-    O excesso de conjecturas mal elaboradas e mal explicadas.
No afã de tornar o sermão mais atraente e empolgante, esses pregadores se utilizam de certas conjecturas que são feitas sem nenhum critério doutrinário, ou seja, narra-se uma história bíblica acrescentando informações inexistentes como se fossem fatos, assim, a conjectura já não é mais uma saudável ferramenta hermenêutica e homilética, e sim um elemento herético.

2-    Conteúdo antropocêntrico, marcado pelo desprezo à glória de Deus.
A mensagem do itinerante não pode ser outra senão Cristo e este crucificado (I Co 2:2). O ego humano e não a alma perdida parece ser o alvo dessa safra de pregadores modernos. Não se prega o que é certo para o homem, mas o que dá certo para ele; fórmulas mágicas de felicidade e crescimento apresentadas num tom de terapia motivacional. Não fala em arrependimento, renúncia, santificação, senão em “três passos para ter sucesso”; “sete chaves para ser influente”; “cinco dicas para crescer” e blá, blá, blá... O homem está no centro dessa mensagem odiosa e vil, e não o Cristo crucificado e glorificado.

3-    Uma ênfase triunfalista sem critérios e parâmetros para uma vida de triunfo.
São apresentadas maravilhosas promessas de vitória, tudo a custo de nada. As únicas bençãos que já nos foram providenciadas através da redenção, são as de cunho espiritual (Ef 1:3), as demais dádivas divinas chegam a nós condicionalmente (Jo 15:7). E mesmo algumas bênçãos espirituais advindas da redenção, operam de forma condicional (I Jo 1:7). Não se pode vociferar o “você vai ter!”; “você vai receber!”; “vai acontecer na sua vida!”, sem antes expressarmos as condições bíblicas para a aquisição da vitória.

4-    Espírito grosseiramente insubordinado que cria nas massas uma mentalidade infiel às lideranças constituídas por Deus.
Alguns desses pregadores não têm um referencial de liderança, não estão “cobertos”, ou seja, não estão sob a autoridade espiritual de ninguém; são meros andarilhos, pregoeiros errantes que não têm compromisso com a Igreja de Cristo, pois se o tivessem, teriam também com os líderes constituídos da Igreja. Em suas mensagens, tentam astuciosamente infundir esse espírito insubordinado no povo, formando gerações de crentes rebeldes. Eles aproveitam eventos isolados em que há pessoas de diversas igrejas, para maldizer seus respectivos pastores, colocando dúvidas no coração das pessoas quanto aos seus líderes: “Aquele seu pastor frio!”; “Esse pastor que não enxerga sua chamada!”, e coisas assim. Isso é perigoso! Fuja dessas insinuações malévolas!

5-    Superficialidade escriturística e ausência de conteúdo doutrinário.
Esses pregadores se dedicaram a decorar de maneira espantosa versículos bíblicos, porém, não há um senso de cadeia temática, eles simplesmente disparam textos bíblicos de maneira desconexa e jactante, porém, o conhecimento contextual acerca dos mesmos é superficial, alem de não estarem instruídos na ortodoxia da doutrina bíblica.
         É bem verdade que as pessoas não querem ouvir um sermão meramente homilético e recheado de textos bem organizados, é preciso ter A PALAVRA DE DEUS, ou seja, aquilo que Deus tem a dizer às pessoas. Mas esta Palavra não pode estar desvinculada de um parâmetro doutrinário apostólico.
   
         Precisamos poupar as ofertas do povo de Deus para aplicá-las em causas realmente justas e pregadores realmente ungidos e comprometidos. O pastor não pode de maneira generalizada atribuir esse disparate mercantilista a todos os pregadores itinerantes do evangelho. Na verdade, alguns pastores vetam o ministério de evangelistas em suas igrejas por não entenderem o perfil completamente singular desse tipo de ministro de Deus. O ministro e historiador pentecostal de avivamentos Roberts Liardon, em seu livro Os Generais de Deus comenta: “De modo geral, os evangelistas avivalistas são rápidos, extravagantes, dramáticos e têm a energia de um touro. Se o pastor entende o chamado do evangelista, os dois podem trabalhar muito bem juntos; entretanto, se o ministro tentar controlar o evangelista, para este se encaixe dentro das necessidades da igreja local, aí vai haver problemas.” (pag. 350) No mesmo livro (pag. 347), descrevendo o estilo de um grande evangelista da década de 40, Liardon narra: “Era um pregador típico da religião ‘à moda antiga’, com os mesmos costumes de bater o pé, dar gritos, chorar, soltar exclamações de ‘glória a Deus!’, falar em línguas bem alto e até dançar no púlpito, de modo extravagante.”

         Voltemos à questão tão polêmica. Já que este comércio de pregadores não é aceitável a Deus e à sua justiça, então como deve ser o SUSTENTO DO EVANGELISTA?

O EQUILÍBRIO BÍBLICO PARA O SUSTENTO DO EVANGELISTA

         É fato observar que na mentalidade de certos pastores também avarentos, a igreja local não tem nenhuma responsabilidade para com o evangelista convidado, senão a gasolina e uma “esmola sagrada”. Além de avareza, esse tipo de atitude revela o espírito egoísta desse pastor, que, tendo já tirado o que é seu de direito do altar dos santos (I Co 9:13), não se importa com seu colega de ministério, e se gaba de ser mais abnegado por estar de contínuo junto ao altar. Que tremenda estupidez! Como ministro atuante tanto no ministério fixo (pastor) quanto no itinerante (evangelista), sei muito bem que ambos os ministérios são marcados por intenso labor e dedicação do obreiro da ceara.
         No mesmo contexto em que Paulo fala acerca do sustento financeiro dos obreiros fixos, ele também faz menção às palavras do próprio Jesus acerca do abnegado evangelista itinerante dizendo: “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho.” (I Co 9:14).
         Num dos clássicos da literatura pentecostal chamado O Pastor Pentecostal, um dos autores, o renomado pastor Glen D. Cole, escrevendo sobre A REMUNERAÇÃO DO EVANGELISTA, enumerou três aspectos concernentes a uma conferência ou cruzada evangelística com essas palavras:

1-    Despesas de viagem. O evangelista será grandemente beneficiado se, antes da cruzada, medidas forem tomadas para pagamento das despesas de viagem. Por exemplo, se o evangelista vai de avião à cidade da cruzada, a passagem deve ser comprada com bastante antecedência ao menor preço possível. O evangelista deve se sentir à vontade para informar esse custo à igreja, a qual deve reembolsá-lo tão logo o saiba. Despesas com alimentação e com aluguel de carro também são reembolsáveis. Essas sempre serão responsabilidades de quem convida, e não do convidado. O pastor abençoa o ministério do evangelista quando esses assuntos são manejados com previsão e amoroso cuidado.

2-    Hospedagem. O evangelista (inclusive esposa e/ou família) precisa de acomodações tão cômodas quanto possíveis para realizar um ministério eficaz. É essencial que disponha de lugar apropriado onde possa ficar a sós com Deus para preparar coração e mente para pregar. Alimentação adequada é outra consideração ligada à hospedagem. Necessidades específicas do evangelista devem ser informadas com antecedência para que tudo lhe seja providenciado. O evangelista faz um investimento de tempo, família e talento, objetivando ajudar o pastor a alcançar sua comunidade para Cristo. Que o investimento da igreja local, feito no período em que o evangelista convidado está na cidade, seja considerado e levado a efeito de maneira cristã.

3-    Honorários. Qual a política da igreja local no que respeita às ofertas para o evangelista? Tal procedimento deve ser claramente acertado antes da realização da cruzada. Na minha opinião, deve ser dada oportunidade para que a congregação afortune o evangelista com ofertas, da mesma maneira que a igreja é abençoada pelo ministério do evangelista. A congregação nunca deve ser impedida de, generosamente, dar ofertas a ministros talentosos que agraciam o púlpito de nossas igrejas. Esses servos de Deus não podem fazer campanhas nas 52 semanas do ano. Sua renda deve ser suficiente para cobrir os períodos em que não há rendimento financeiro. A hora de se ofertar é a hora de se lembrar dessas palavras: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20:35).

         Este princípio de abençoar financeiramente aqueles que nos são portadores da Mensagem Divina é bíblico e doutrinário, moral e ético.

“E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gl 6:6).

         Como cristãos que somos nossa cultura é judaico-cristã, e no cerne da cultura judaica primitiva e hodierna, está esta nobre veneração por homens a quem Deus agraciou com sua Palavra, Rabinos, Sacerdotes, Profetas.
         Além dos honorários legais instituídos por Deus para os levitas, os filhos de Israel entendiam que não era razoável se apresentar perante um homem de Deus sem uma dádiva, como vemos na narrativa de Samuel:

“...Eis que há nesta cidade um homem de Deus, e homem honrado é; tudo quanto diz sucede assim infalivelmente; vamo-nos agora lá; porventura, nos mostrará o caminho que devemos seguir. Então, Saul disse ao seu moço: Eis, porém, se lá formos, que levaremos, então, àquele homem? Porque o pão de nossos alforjes se acabou, e presente nenhum temos que levar ao homem de Deus; que temos? E o moço tornou a responder a Saul e disse: Eis que ainda se acha em minha mão um quarto de um siclo de prata, o qual darei ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho.” (I Sm 9:6-8)

Perceba a importância de se ofertar e honrar a homens de Deus.
A mulher sunamita não se reservou em construir uma “suite” para o profeta Eliseu e seu assistente (II Rs 4:8-11). Da mesma sorte, a pobre viúva de Sarepta não hesitou em dar sua última provisão ao homem de Deus o profeta Elias (I Rs 17:8-16).

         Indubitavelmente, Jesus é o nosso exemplar perfeito de pastor e pregador itinerante em tempo integral, e ao contrário do que muitos possam imaginar, o ministério de Jesus não era suprido “sobrenaturalmente”, Jesus não multiplicava pães e peixes o tempo todo, tão pouco multiplicava dinheiro. A estrutura do ministério de Jesus carecia de recursos especiais, pois seu “staff” era composto de doze obreiros que também trabalhavam na pregação do evangelho continuamente. De onde vinha o sustento para Jesus e sua equipe evangelística? A resposta é: das ofertas voluntárias dos fieis discípulos que eram abençoados pelo inigualável ministério do Messias revelado. Dentre esses discípulos que foram tocados pela unção desse ministério, estão as mulheres, isso mesmo. Vejamos:

“E aconteceu, depois disso, que andava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do Reino de Deus; e os onze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com suas fazendas.”
(Lc 8:1-3)

         Essa é a antiga máxima do sábio legalismo judaico oriundo da mente de Deus: “Não atarás a boca ao boi, quando trilha.” (Dt 25:4; I Tm 5:18). Em outras palavras: Não sonegue ao trabalhador da ceara o direito de comer do trigo que colhe.
         Gostaria de recordar ao leitor que o genuíno e vocacionado pregador do evangelho, não deixou de trabalhar para pregar, e sim passou a trabalhar na pregação. Por isso, ele é um trabalhador tão digno de ser remunerado quanto o trabalhador secular. “...Digno é o operário do seu alimento.” (Mt 10:10; I Co 9:14; I Tm 5:17-18). Deus em Cristo o ilumine.

REDEFININDO O MINISTÉRIO ITINERANTE


Depois do advento do polêmico e extravagante evangelista norte-americano Billy Sunday, surgiu um novo conceito acerca do ministério do Evangelista. Sunday foi pioneiro no ministério profissional de mega cruzadas que reuniam pastores e igrejas em mobilizações em que se utilizavam os modernos recursos midiáticos e elevados investimentos financeiros. Somando as altíssimas ofertas, o glamour que marcava suas cruzadas, e sua influência carismática sobre as massas, Billy Sunday se tornou um verdadeiro “astro” do evangelicalismo.
         Temos visto em nossos dias uma explosão de pregadores itinerantes, jovens fervorosos encantados com a perspectiva das multidões e da fama. E a bem da verdade, está intrínseco na própria natureza do homem este desejo por afirmação e reconhecimento, portanto, o “sonho dourado” de jovens pregadores itinerantes não deve ser frustrado por uma piedade descontextualizada e intolerante, porém, devemos sim, encontrar um modelo bíblico deste ministério de apoio à Igreja local.
         Comece indagando o seguinte: Este atual ministério itinerante como conhecemos hoje, está de acordo com a instituição e a prática dos ministérios cristãos? Que tipo de benefício efetivo o atual ministério itinerante tem promovido para o Corpo de Cristo?
         Na história da comunidade cristã dos primeiros três séculos, três classes de ministros empreendiam viagens itinerantes como pregadores oficiais da Igreja Cristã, eram eles: apóstolos, profetas e evangelistas; pastores e mestres tinham um caráter mais local, ou seja, supriam a Igreja com sua presença constante.
         Os apóstolos eram ministros pioneiros, que além estabelecerem igrejas por toda parte, edificavam-nas com seu modelo doutrinário herdado dos doze primeiros apóstolos; eram grandemente reverenciados pelos cristãos e normalmente atuavam nos demais ministérios.
         Os profetas, tal qual no Antigo Testamento, não eram ministros “do templo”, mas exortadores itinerantes que encorajavam a Igreja em momentos de desalento, além de predizerem acontecimentos sociais, políticos e religiosos.
         Este é um momento muito especial para a Igreja de Jesus Cristo. O Espírito de Deus tem restaurado a vigência dos cinco ministérios bíblicos em nossa época, especialmente o apostólico e o profético. Genuínos apóstolos têm estabelecido e alicerçado a Igreja do Senhor trazendo outra vez a harmonia da Doutrina Apostólica. E os profetas cristãos da atualidade têm contribuído para um despertar da Igreja, com suas mensagens contundentes e cheias de autoridade espiritual. Mas é outro ministério que se caracteriza pelo seu caráter intrinsecamente itinerante, o Evangelista.
         Pode-se conceber nessa dispensação um apóstolo que se fixe em uma igreja local (Sede) após ter estabelecido algumas igrejas, também não é raro vermos pastores locais atuando como profetas para sua própria congregação; porém, não é imaginável, nem nos primórdios do cristianismo, e nem na atualidade, um evangelista com ministério geograficamente fixo. O Evangelista é o genuíno pregador itinerante, e o genuíno pregador itinerante deve ser um Evangelista.
         Surge a questão: Os pregadores itinerantes da atualidade têm desenvolvido que tipo de ministério? Indago isto, pois nos parece que alguns dessa geração de itinerantes, “criaram” uma espécie de modelo alternativo de obreiro, que não parece apostólico, profético, e muito menos evangelístico. E esta discrepância diz respeito à PROPÓSITO, MENTALIDADE e MENSAGEM. Mas é a mensagem que revela com clareza o propósito e a mentalidade do pregador. A pregação de um Evangelista deve refletir um propósito sincero de expandir com altruísmo o Reino de Deus, cooperando com pastores e igrejas através de seus dons e carisma; sua pregação deve refletir também uma mentalidade madura em relação ao Reino e a Igreja de Deus.
         Ao avaliar o ministério de um pregador itinerante por sua mensagem, podemos considerar os seguintes critérios: (1) Uma mensagem entusiasta oriunda de um coração inflamado pelo Espírito Santo e pela compaixão pelas almas; (2) Uma mensagem bíblica e marcada pela consciência e concisão doutrinária; (3) Uma mensagem marcada por uma forte convicção do pecado por parte da audiência; (4) Uma mensagem agraciada pela manifestação de dons espirituais; e (5) Uma mensagem cristocêntrica (Cristo no centro) e que aponte para a obra redentora do calvário. Isto é um típico pregador itinerante nos moldes bíblicos.
         Não perca as próximas postagens sobre Evangelismo e o Ministério do Evangelista. Deus em Cristo o abençoe.

CINCO PERFIS DE EVANGELISTAS

Assim como existem diversas categorias de médicos para especialidades distintas, pneumologistas, oftalmologistas, ortopedistas... Certamente não podemos esperar que um dom ministerial dado por um Deus Criativo, seja restrito; existe uma diversidade no ministério do EVANGELISTA. Uma das coisas mais empolgantes no ministério dos evangelistas, é que cada um desses fervorosos pregadores do evangelho, possui uma característica singular, e é justamente essa singularidade ministerial que, bem administrada pela Igreja Local, renova a espiritualidade e a paixão do povo por Deus e por sua obra. Igrejas que adotam um perfil único de evangelista tendem a ficar estagnadas, pois se suprirão em um aspecto e ficarão carentes e outros.
         Gostaria de enumerar cinco ramos diferentes do ministério evangelístico que ao longo dos séculos têm trazido revitalização e entusiasmo à Igreja, são cinco “perfis” de pregadores do evangelho que precisam ser discernidos piedosa e sabiamente pelo pastor e pela igreja; são eles: (1) Evangelistas Avivalistas; (2) Evangelistas de Cura; (3) Evangelistas Pioneiros; (4) Evangelistas Proféticos; e (5) Evangelistas Pastores.

1- EVANGELISTAS AVIVALISTAS

Convencionalmente, o termo avivalista na cultura eclesiástica moderna, parece ser aplicado exclusivamente a evangelistas mais eloquentes e que operam os dons espirituais, porém, é muito mais do que isso. Ao longo dos anos, o Espírito Santo tem ungido de forma especial pregadores do evangelho que carregam em si um peso de responsabilidade com um “senso geográfico”, ou seja, estes evangelistas são comissionados com uma graça diferenciada para atrair para Deus a população de uma comunidade, uma cidade, ou até uma nação inteira. O Evangelista Avivalista é uma classe de ministro muito versátil, pois nele operam os dons de cura, o espírito pioneiro, os dons proféticos, e também habilidades pastorais. Este tipo de evangelista, portanto, é dotado de um perfil apostólico.
Como fervoroso pregador do evangelho e entusiasta visionário apostólico, o Evangelista Avivalista forma discípulos nos moldes de Jesus, com visão não meramente denominacional, mas com a perspectiva do Reino de Deus.
Nestes dois milênios de dispensação da Igreja, o Espírito Santo nos legou o privilégio de contemplar, extasiados, o ministério estrondoso de grandes avivalistas, dentre eles, vale a pena ressaltar o jovem Evan Roberts do País de Gales. Roberts, incendiado por uma vida poderosa de oração e por uma visão divina de avivamento nacional, ateou fogo em seu país. Os relatos do avivamento galês são chocantes e quase inacreditáveis do ponto de vista sociológico (ver biografia na postagem do blog: http://pastoreneasvozprofetica.blogspot.com.br/2011/07/evan-roberts-o-avivalista-gales.html).
         O evangelista avivalista tem somente um anelo e uma motivação: o reavivamento da Igreja local e o avivamento da comunidade. Assim, ele empreende esforços tanto no despertar dos crentes para uma vida espiritual mais profunda, santificada e socialmente relevante, como na salvação e conversão dos perdidos em uma área geográfica determinada por Deus.

2- EVANGELISTAS DE CURA

Este ramo de Evangelista despontou por ocasião do ministério do lendário ministro de cura Oral Roberts. Foi na década de cinquenta que estes poderosos pregadores se popularizaram, especialmente pela divulgação do famoso periódico A VOZ DA CURA nos Estados Unidos, e de grandiosas cruzadas em tendas, além disso, foram eles (em especial Oral Roberts) os pioneiros do tele-evangelismo. A ênfase da pregação e do ministério desses Evangelistas é o poder curador de Deus. Dentre as principais Doutrinas expostas por eles se destacam: a cura divina como dádiva inclusa na obra expiatória do calvário (Is 53:4-5; Mt 9:5-7); o papel fundamental da fé na ministração e recebimento da cura (Mc 10:52; At 14:9); a crença de que a cura divina é sempre a vontade de Deus (Mt 8:2-3); a cura divina mediante a simples recepção da Palavra (Sl 107:20; Lc 7:7); a crença de que é a vontade de Deus curar todas as pessoas (Mt 10:1; At 10:38). Estes Evangelistas de Cura são conhecidos por sua absoluta ira contra toda sorte de doenças e enfermidades, eles empreenderam uma fervorosa série de campanhas de avivamento, marcados pela ênfase na cura dos corpos enfermos. Evidentemente que o grande foco desse maravilhoso dom operado nestes ministros é atrair a atenção dos pecadores e convertê-los, o que se torna mais simples quando há sinais, especialmente curas (At 8:6-7; 28:8-10). Evangelistas de Cura se utilizam pelo menos quatro formas básicas para conduzir as pessoas à cura: (1) Em muitas reuniões eles ungem as pessoas doentes uma a uma lhes impondo as mãos (Mc 6:5, 13). (2) Em sua maioria, os Evangelistas de Cura “instigam” a fé das massas somente pela Pregação ou Palavra da Fé (Mt 8:16; Lc 4:36; Gl 3:5). (3) Outro meio pelo qual ondas de cura são liberadas sobre as massa, é a virtude do Espírito do Senhor Jesus que flui desses ministros ungidos (Nm 11:16-17; Lc 6:19; At 5:15-16). (4) Por fim, um meio muito comum de cura divina era através de se tocar, ou de pontos de contato com Evangelistas de Cura ungidos (Mt 14:36; Mc 3:10; 5:28; At 19:11-12).
Os Evangelistas de Cura foram também pioneiros na promoção da verdadeira vida abundante, com hábitos saudáveis de alimentação e atividade física; a máxima desses pregadores é: “Deus não é responsável por nossa saúde, Ele é responsável por nossa cura”.
Dentre estes poderosos Evangelistas devemos destacar, além, é claro, do proeminente Oral Roberts, a extravagante e dramática Kathryn Kullman, uma tremenda mulher de Deus que possuía um genuíno ministério do Espírito Santo, conduzindo milhares de pessoas à curas extraordinárias apenas convidando o Espírito Santo para fazê-lo; como não falar do controverso William Brahman que se tornou o “pai” e um inspirador de uma geração de ministros curadores, inclusive de T.L. Osborn. Podemos fazer menção também de John Lake, Smith Wigglesworth, John Alexander Dowie, Maria Woodworth-Etter, A.A. Allen, Benny Hinn e outros (ver o blog A VOZ DA CURA: http://avozdacura.blogspot.com.br/). No Brasil, nomes destacados foram: Celso Lopes, Luíz Schiliró, Manuel de Melo, Davi Miranda, e uma nova geração que hoje, está operando em um nível de poder curador jamais visto.

3- EVANGELISTAS PIONEIROS

Começar do “zero”, lançar alicerces sólidos para estabelecer igrejas, consolidar frentes evangelísticas estáveis. Estes são alguns aspectos fundamentais do ministério de um Evangelista Pioneiro. O apóstolo Paulo, que aliás, é um dos mais completos evangelistas que já viveu, foi um grande pioneiro, ele pregava o evangelho em uma cidade, estabelecia uma igreja ali, discipulava por um curto espaço de tempo a liderança pastoral que assumiria em sua ausência, e depois partia para outra cidade e recomeçava o processo. Na verdade, a despeito de permanecer ou não em certo lugar para treinar obreiros, o Evangelista Pioneiro com suas poderosas e persuasivas campanhas de evangelização e avivamento, sempre deixam para trás um sem número de convertidos prontos para engressar no ceio de uma congregação (igreja) local. Uma das maiores denominações pentecostais foi fundada por um grande Evangelista Pioneiro, o Bispo Charles Harrison Mason, que incendiou o Sul dos Estados Unidos pregando o evangelho e curando os enfermos. Outro poderoso Pioneiro é o argentino Carlos Annacondia, que tem se constituído dentre os evangelistas, como o maior apoiador da igreja local no mundo; suas cruzadas de cura e libertação têm transtornado cidades, deixando milhares de almas convertidas aos cuidados dos pastores. E o que não dizer de Billy Graham, que também tem sido braço direito de pastores e líderes cristãos ao redor do mundo nas últimas décadas.
Precisamos de mais desses ministros com espírito de desbravamento e conquista de territórios. Estes são os Evangelistas Pioneiros.

4- EVANGELISTAS PROFÉTICOS

Há uma categoria de Evangelista que parece estar “acima de qualquer suspeita”, são homens veementes, inconformistas, confrontadores, e expõem como poucos ministros o fato e a realidade do Pecado humano. São os Evangelistas Proféticos, homens que parecem consumidos por um zelo divino pela alma eterna dos homens e pelo estado espiritual da Igreja. Apesar de não ter feito parte da Era da Igreja, João Batista foi o precursor do Reino de Deus, e neste sentido ele foi um anunciador das boas novas da remissão dos pecados pelo arrependimento (Marcos 1:4-5), ou seja, o profeta João Batista foi um poderoso Evangelista Profético. Suas grandes campanhas no deserto atraíam multidões de pecadores que se arrependiam e eram por ele batizados no Rio Jordão. A pregação de João Batista era incisiva e tocava em pontos nevrálgicos da religiosidade formalista e das desigualdades e decadências sociais de sua época (Lucas 3:10-14).
Estes Evangelistas estão representados em nosso século em vozes proféticas como a do saudoso e lendário Leonard Ravenhill que também incendiou corações e promoveu grandes despertares na Inglaterra, e em muitos países do mundo, seu legado de Evangelista Profético foi herdado da influência de outro grande atalaia: A.W. Tozer. Hoje em dia, estas vozes conservam este legado através do Missionário norte-americano Paul Washer, que tem causado grande impacto com sua pregação cristocêntrica e repleta de penetrantes denúncias contra o atual estado da Igreja nos EUA e no mundo.
Tais pregadores não podem jamais se calar, pois eles conservam o equilíbrio e a proclamação do amor e do juízo de Deus. (ver blog: http://oprofetico.blogspot.com.br/)
Os Evangelistas Proféticos estão em plena atividade.

5- EVANGELISTAS PASTORES

A chamada da grande comissão é abrangente, ou seja, não diz respeito apenas a pregar, mas também a discipular os novos convertidos, ensinando-os na doutrina dos apóstolos. Jesus disse: “...Ide por todo o mundo, pregai o evangelho...” (Marcos 16:15) e “...ide, ensinai todas as nações...”. A pregação e o ensino são coisas absolutamente distintas, aliás, Jesus possuía o tríplice ministério do Evangelista: Ensinar, Pregar e Curar. “E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.” Perceba que ensinar possui um caráter mais interno, ou seja, restrito a algum ambiente religioso (sinagogas), já pregar tem um caráter mais externo (nas vilas ao ar livre). Ambos são importantes, mas são os pastores que possuem mais habilidades e talentos espirituais para o ministério “indoor”. Há, no entanto, uma classe de evangelista que tanto prega o evangelho em cruzadas e campanhas fora do âmbito congregacional (templo), como ensina dentro do mesmo. Eles possuem uma capacidade de serem pastores, porém fazendo a obra de evangelistas. O apóstolo Paulo exortou ao jovem pastor da Igreja em Éfeso, Timóteo: “...faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” (II Timóteo 4:5).
Nossa geração tem sido marcada pelo surgimento do fenômeno da “mega-igreja”, que parece positivo para uns e negativo para outros, porém, diga-se a verdade: os pastores dessas mega-igrejas se tornaram influentes e poderosos Evangelistas Pastores, que têm empreendido estratégias arrojadas e visionárias na difusão do Evangelho do Reino, penetrando em seguimentos da sociedade outrora alheios à realidade da Igreja, como o entretenimento, a comunicação e a mídia. Dentre estes grandes Evangelistas Pastores destacam-se o famoso pastor sul-coreano David Young Sho, idealizador da igreja em células e líder da maior igreja do mundo. E o nome mais eminente da atualidade o Pastor midiático TD Jakes.
Estes ministros polivalentes têm sido usados por Deus para trazer grande crescimento ao corpo de Cristo e expansão ao Reino de Deus.

         Evidentemente que existem “subclasses” de evangelistas no corpo de Cristo, a diversidade de temperamentos, personalidades e dons propicia isto. Os Evangelistas supracitados não obstante praticarem o evangelismo pessoal esporadicamente, são mais efetivos e eficazes na comunicação em massa, enquanto outros parecem ser mais frutíferos na evangelização de pessoa por pessoa. Sejamos, porém francos, não é sábio um ou outro tipo de proclamador do Evangelho se declarar maior ou mais nobre por praticar uma faceta de evangelismo em grupos de rua, nas casas, por cartas, telefone, individualmente ou em massa. O ide é para todos, mas o ministério público não!

domingo, 28 de julho de 2013

A EXPLOSÃO DA COGIC NO BRASIL


Este é um tempo muito especial para a maior denominação pentecostal do planeta,aqui no Brasil, é nosso 27º aniversário. A COGIC, Church Of God In Christ, em português: IGREJA DE DEUS EM CRISTO, tem vivenciado nos últimos quatro anos (desde 2009) extraordinária projeção nos meios modernos de comunicação, especialmente nas redes sociais. A Igreja afro-americana que chegou no Brasil em 1986 através dos saudosos Pastor Rubens dos Santos e do Bispo Samuel Moore, gastou seus primeiros anos em consolidação histórica e aperfeiçoamento das lideranças. Hoje, sob a liderança episcopal do Bispo Terrence Rhone, a COGIC desponta no cenário evangélico nacional como uma das maiores forças, especialmente entre os jovens, que encontram na eletrizante musicalidade gospel de raíz, uma opção poderosa para se envolver nos ministérios de música através dos sensacionais corais e grupos de louvor ao velho estilo afro-americano.
A Igreja de Deus em Cristo foi a primeira denominação pentecostal oficial originária do lendário Movimento Pentecostal nascido na Rua Azuza, 318 em Los Angeles. Foi também a primeira denominação pentecostal a credenciar ministros e abrir congregações de acordo com as leis federais. Fundada em 1897 como uma denominação clássica da santidade, e reorganizada em 1907, quando seu líder, o Bispo Charles Harrison Mason recebeu a experiência pentecostal do falar em línguas pelo ministério do Reverendo William Seymour, a Igreja de Deus em Cristo teve participação crucial na formação sócio-política dos Estados Unidos da América; e como denominação predominantemente negra, foi decisiva na questão racial americana. Foi no Templo Mason da COGIC, que o pastor e ativista pelos direitos civis dos negros, Martin Luther King Jr. Pregou seu último sermão: “Eu estive no monte e vi a terra prometida”. Foi num templo da COGIC que velaram o corpo do outro ativista negro, Malcoln X.
Mais de trezentos pastores e ministros brancos se uniram à COGIC por uma óbvia conveniência, para adquirirem suas licenças federais para pregar e abrir igrejas. Não suportando a pressão racial, os mesmos trezentos pastores e ministros deixaram a COGIC, e em 1914, convocaram uma assembleia geral de ministros brancos em Hot Springs para tratarem de seu futuro como líderes pentecostais; foi nesta convocação que deram início à assembleia de Deus, nome que, aliás, surgiu nesta ocasião pela primeira vez, e veio a servir de inspiração no Brasil para a reorganização em Belém do Pará da Missão da Fé Apostólica, que, quatro anos depois, em 1918, passou a chamar Assembleia de Deus. Assim, se queremos ser justos e precisos ao honrar a história, precisamos considerar e lembrar que a querida Assembleia de Deus é a filha mais ilustre da COGIC, além de outras pentecostais como: A Igreja do Evangelho Quadrangular, a Igreja do Nazareno e a Igreja de Deus.
A COGIC no Brasil, ou Jurisdição do Brasil, liderada pelo Bispo Terrence Rhone, está distribuída hoje em doze distritos: COGIC1, Superintendente Aldo Bezerra; COGIC2, Superintendente Robson Paiva; COGIC3, Superintendente Ivo Mariano; COGIC4, Superintendente Gerson Venâncio; COGIC5, Superintendente Terrence Merrit; COGIC6, Superintendente Sérgio Melo; COGIC7, Superintendente Ronaldo Nascimento; COGIC8, Superintendente Aldair Rodrigues; COGIC9, Superintendente Paulo Assis; COGIC10, Superintendente Eneas Francisco; COGIC11, Superintendente Nelson Pena; e COGIC12, Superintendente Ismael Pereira. Estes distritos distribuídos em três regionais: Regional 1, Supervisor Robson Paiva, Regional 2, Supervisor Ivo Mariano, e Regional 3, Supervisor Ronaldo Nascimento.
O grande diferencial da Igreja de Deus em Cristo é sua liturgia singular de culto e sua teologia pentecostal sólida e centralizada na Santidade e Santificação. A música e a pregação fervorosa também têm sido os fatores de maior crescimento da COGIC.
Muitas denominações históricas têm promovido a cultura COGIC (uns inocentemente e outros deliberadamente) incorporando em seu repertório musical a o estilo exclusivamente COGIC. Podemos fazer menção de alguns cantores e corais importantes que ajudaram a disseminar esta musicalidade, preparando o caminho para esta explosão da Igreja de Deus em Cristo em nosso país, dentre eles, Álvaro Tito, Matos Nascimento, Marquinhos Gomes, Priscila Angel, Soraia Moraes, grupos Grove Soul, Templo Soul, Kades Singers, além do popular Raíz Coral. No primeiro semestre de 2012, a grande Catedral das Assembleias de Deus do Brás, promoveu de maneira estrondosa nossa cultura musical, ao realizar grandes shows com dois nomes familiares para nós: Kirck Franklin e Donny Mcklurkin. Nesta ocasião, foi mencionado o nome do nosso querido Coral Resgate pelo Pastor Samuel Ferreira, que proferiu publicamente: “Eles são de uma tal de COGIC”. É irônico não sabermos o nome de nossa mãe, mas isto se deve a uma omissão histórica, talvez gerada por perda de informações preciosas ao longo das décadas. Hoje, há inúmeros corais no estilo COGIC dentro de denominações pentecostais, dentre os quais podemos citar o jovem coral Voices Soul, e outros que estão surgindo todos os dias honrando de alguma forma a identidade musical da Igreja de Deus em Cristo.
Vale a pena relatar que dentre os financiadores da viagem missionária dos apóstolos suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, estava o Bispo Charles Mason, presidente da COGIC. É tempo de honrar a história!
Sim, a cultura musical COGIC é absolutamente inconfundível e contagiante. A Igreja das palmas, a igreja da dança, a igreja do pentecostes primitivo de Azuza. Os teólogos tradicionais mais conservadores classificam a COGIC não como pentecostal, mas como “ultra-pentecostal”, atribuindo este título de maneira pejorativa é claro, pois a extravagância na adoração, e a impetuosidade na pregação são marcas inegociáveis da Igreja de Deus em Cristo.
A pregação na COGIC é algo glorioso! Os ministros que cultivam de fato a oratória melódica e veemente dos antigos pregadores da Santidade do Sul dos Estados Unidos do início do século XX, dão ao culto uma expressão poderosa da ação do Espírito na liturgia. Ao som da pentatônica do Hamond os pregadores apoiados pelos músicos exortam e edificam a congregação num ritmo poderoso e inflamado pelo fogo pentecostal.

DISTINTIVOS LITURGICOS DA COGIC

O estilo da adoração e da musicalidade na Igreja de Deus em Cristo nos remete a épocas da história norte-americana que ajudaram a dar forma ao que conhecemos como música gospel. Para entendermos com clareza a adoração e musicalidade da Igreja de Deus em Cristo, é necessário voltarmos um pouco à realidade dos escravos que trabalhavam nos campos de algodão nos séculos XV e XVI, que emprestaram às gerações futuras sua melodia e sentimento. A Igreja de Deus em Cristo teve o privilégio de ver nascer figuras da música gospel que seriam únicas em sua contribuição para a denominação e reconhecimento fora dela. Dentre elas, talvez a mais aclamada e que deixou um legado ainda vivo e atuante no conceito musical e que se expande para outras áreas do ministério – Dra. Mattie Moss Clark (1925-1944) – suas filhas Twinkie, Dorinda, Jackie e Karen Clark. Dra. Clark é conhecida como responsável por criar a harmonia em três vozes nos corais: soprano, contralto e tenor, o que ainda prevalece até o dia de hoje em todos os corais americanos.
A adoração na Igreja de Deus em Cristo exerce um papel fundamental na preparação da atmosfera do culto para a pregação da palavra e visita do Espírito Santo. No aspecto geral, é responsável por aberturas de cultos, seguidos de apresentação do coral, solo sermônico, dentre outras participações.
A musicalidade da igreja é visível e inquestionável na vida dos músicos instrumentistas, que atuam do começo ao fim do culto, e revela a COGIC como uma das maiores escolas de músicos da atualidade.
Sendo uma igreja tradicionalmente pentecostal é muito comum encontrarmos na Igreja de Deus em Cristo pregadores que são de terceira ou até mesmo quarta geração na igreja, e, por sua vez, aprenderam e desenvolveram seu estilo de pregação, vendo seus pais e pastores desde criança  pregarem uma mensagem viva e fervorosa.
Ainda no Avivamento da Rua Azusa era comum o Espírito Santo guiar o líder do culto para informar um irmão, segundos antes, que era ele quem devia trazer o sermão. O que depois do derramar do Espírito Santo, tornou-se em, além de atividade sagrada, um estilo de arte.
O fervor vem sem dúvidas, da vida do Espírito que fora derramada sobre o pregador, mas a melodia vem certamente da influência da escravidão, da musicalidade particular dos negros o que se tornou um estilo não somente na Igreja de Deus em Cristo – apesar de ser uma das mais tradicionais desde seus dias pós avivamento – mas em muitas outras igrejas e denominações pentecostais norte-americanas, dentre elas algumas brancas.
A pregação na Igreja de Deus em Cristo é vista como a parte principal do culto, quando Deus fala. O pregador prepara seu sermão, mas já está claro desde o início da mensagem que o fim  dela pode exigir o que a história chama de chamada-e-resposta nas igrejas de origem negra. O pregador não somente prega para o público, como o faz juntamente com ele. Ouvir palavras de apoio da congregação, tais como, “prega!”, “sim, sim”, “ajuda, Senhor”, dentre muitos outros, não são de se admirar.
Concernente à melodia, o pregador da Igreja de Deus em Cristo, muitas vezes até sem o devido conhecimento musical, trás uma bagagem cultural que de forma natural o leva a ser repetitivo em frases de efeito, construído sobre o hemistíquio (cada metade de um verso, separada pela cesura, normalmente associado a versos longos) sua rítmica de pregação, usando o que musicalmente se conhece como escala pentatônica, que é a base para grande parte dos estilos musicais de origem negra, como o blues e o gospel.  O pregador constrói sua mensagem com introdução, exemplos, interação com o público, e geralmente, uma conclusão com que chamam de whoop (brado, grito, exclamação), que geralmente se faz acompanhar de melodias construídas com a escala pentatônica, acompanhado por um bom organista.
A COGIC no Brasil se reúne, assim como nos Estados Unidos, em dois grandes eventos: A Santa Convocação Jurisdicional e a Conferência AIM. A Santa Convocação, sob a direção do Bispo Jurisdicional Terrence Rhone e sua diretoria, reúne toda a Igreja de Deus em Cristo no país para celebrar sua unidade, e a AIM (Auxiliares In Ministrie) Auxiliares no Ministério, é a Conferência de Treinamento das lideranças nos cinco Departamentos principais da COGIC: MÚSICA, EVANGELISMO, MISSÕES, ESCOLA DOMINICAL e JUVENTUDE. No Brasil estes departamentos estão atualmente sob a liderança dos seguintes irmãos: MÚSICA, Missionária Jéssica Augusto; EVANGELISMO, Pastor Enéas Ribeiro; MISSÕES, Presbítero Adriano Cunha; ESCOLA DOMINICAL, Missionária Maria Aparecida; e JUVENTUDE, Pastor Márcio.
Você deve estar inquieto com a declaração do início desta postagem de que a COGIC é a maior denominação pentecostal do planeta. Esta é uma informação precisa. Indubitavelmente, a Assembléia de Deus é, segundo o historiador eclesiástico Vinson Synan (livro: O Século do Espírito Santo, Editora VIDA), a maior e mais conhecida “comunidade pentecostal” do mundo com 35 milhões de membros no mundo, embora, o mesmo Vinson Synan declare que hoje, a igreja de Deus em Cristo é a maior denominação pentecostal existente e a igreja que mais cresce. A diferença está nas terminologias aplicadas a ambos os seguimentos: A Assembléia de Deus é a maior como ‘comunidade pentecostal’ e a Igreja de Deus em Cristo é a maior como ‘denominação pentecostal’ histórica. Comunidades Pentecostais possuem inúmeras ramificações dissidentes, mas uma denominação possui uma unidade eclesiástica legitimamente episcopal, ou seja, embora a AD como denominação seja realmente grande, ela está fragmentada por políticas administrativas diversas que formam blocos convencionais, já a COGIC não possui essa pluralidade administrativa e de lideranças. Embora nos Estados Unidos a COGIC (6 milhões) seja duas vezes maior do que a AD (3 milhões), no Brasil a COGIC começou sua ascensão nos últimos três anos, especialmente através do crescimento explosivo da musicalidade afro-americana por aqui como já dissemos. Mas a história mundial de sucesso e avivamento de ambas as denominações, deve ser um motivo para sua unidade, não como instituições, mas como partes cruciais do corpo de Cristo em nossos dias e detentores do poderoso legado pentecostal.
A história da Igreja de Deus em Cristo é peculiar devido a fatos que impactaram e até mesmo modelaram o cristianismo norte-americano e que ainda exerce grande influência sobre aquele país. No século 19, o movimento da santidade se destacava como conseqüência do trabalho da doutrina metodista, pela ênfase na doutrina wesleyana da perfeição cristã, que cria ser possível viver uma vida livre do pecado voluntário, o que era uma segunda obra da graça. Foi sob este ensinamento que as ‘igrejas da santidade’ foram formadas no início do século 19. Dentre elas, a Igreja de Deus (Santidade), Igreja Evangélica Metodista e é claro, a Igreja de Deus em Cristo. O Bispo Mason e o Bispo C.P. Jones foram responsáveis pela controvérsia da santidade, ao introduzirem a forma doutrinária calvinista na igreja batista negra (leia-se, formada por negros), a doutrina perfeccionista wesleyana da santificação, o que certamente causou muitos conflitos. O encontro de Charles Mason com C.P. Jones, Elder J.E. Jeter e Elder W. S. Pleasant em 1895 foi o início de um relacionamento que mudaria a história da igreja americana. Juntos estes homens realizaram um avivamento em 1896 que causaram um grande impacto na cidade de Jackson, Mississippi. Muitas pessoas se converteram, foram curadas e santificadas pelo ensino do Bispo Mason. Mas este impacto soou negativo para a associação batista que fechou suas portas para Bispo Mason e seus companheiros. Em 1897, Bispo Mason foi forçado a pregar seu sermão na entrada sul do tribunal de justiça, o que tocou o coração do Sr. John Lee, que ofereceu a sala de sua casa para a reunião seguinte. Mas por causa do grande número de pessoas que compareceram, o Sr. Watson, dono de um depósito abandonado, permitiu a transferência da reunião para o prédio onde desencaroçavam o algodão, às margens dum pequeno riacho. Este local se tornou o local de reunião da Igreja de Deus em Cristo, a partir de onde o grupo se organizou com o propósito de enfatizar a doutrina da santificação através do derramar do Espírito Santo.
É impossível desvincular a história da Igreja de Deus em Cristo da história de Charles Mason. Ele nasceu em 8 de Setembro de 1866 na Fazenda Prior, norte de Memphis. Seus pais eram Jerry e Eliza Mason, ex-escravos e membros devotos da Igreja Batista Missionária. A mãe de Mason orava ferventemente para por seu filho, para que ele fosse dedicado a Deus. Quando menino, Charles orava com sua mãe para que eles tivessem acima de tudo, uma religião como aquela que os velhos escravos demonstravam em suas vidas. Esta fome pelo Deus de seus ascendentes fundamentou a dinâmica de sua vida. Charles tinha doze anos quando a epidemia de febre amarela surgiu e levou a vida de seu pai. Durante estes dias de temor e dificuldades, o jovem Mason trabalhava muito, com poucas chances de estudar. Em 1880, febre e calafrio atacaram a saúde de Mason, o que causou grande temor no coração de sua mãe. Todavia, milagrosamente ele foi curado no primeiro domingo de Setembro de 1880. Junto com sua mãe, ia à Igreja Batista M. Olive, onde ele foi batizado por seu meio-irmão, Ver. I.S. Nelson, numa atmosfera de louvor e ações de graças. Aos 25 anos de idade, ele deixou um pouco o ministério integral para se casar com Alice Saxton, filha da melhor amiga de sua mãe. Alice com muita amargura lutou contra seus planos ministeriais e se divorciaram após dois anos. Mason ficou desesperado e triste e por muitas vezes, satanás o tentava, para que tirasse sua própria vida. Ele permaneceu solteiro, até a morte de Alice Saxton. Em 1893, com 27 anos, ele entrou na Faculdade Batista do Arkansas, fundada por Elias Morris, pastor da Igreja Batista Centenária em Helena, Arkansas. Mas por não concordar com os métodos, filosofias e currículo da instituição, ele decidiu que a escola não o ajudaria na prevenção da perda da vitalidade da ‘religião escrava’, por causa de sua assimilação da cultura em geral. Saiu em 1894. Foi em 1895 que conheceu Charles Price Jones, um líder nato. E sendo Mason um dinâmico pregador, não tinha dificuldade em segui-lo. Ele se referia a Jones, como um homem que era “doce no Espírito do Senhor, que orava muito”. Juntos, iniciaram a Igreja de Deus em Cristo em 1897, todavia, 1895 foi ano de acontecimentos vitais para o surgimento da igreja. Mas mudanças ainda mais drásticas estavam por vir.

CHARLES MASON SE ENCONTRA COM WILLIAM SEYMOUR

Em 1907 Bispo Mason viajou para Los Angeles para participar um avivamento pentecostal junto com seus companheiros. Ali, William Seymour – também negro e filho de escravos – pregava Lucas 24:49 e Mason ficou convencido que era essencial para ele receber o derramar do Espírito Santo. O avivamento da Rua Azusa encontra suas raízes, no movimento da santidade, com cristãos da igreja batista negras. Na primavera de 1905 em Los Angeles, os ministros da Segunda Igreja Batista removeram oito famílias da membresia devido à visão sobre a santidade. Este grupo começou a se reunir na casa de uma família negra – família Asbery - na Rua Bonnie Brae (este local hoje é o museu da Rua Azusa e pertence à Primeira Jurisdição do Sul da Califórnia, da Igreja de Deus em Cristo). Este grupo mais tarde sentiu a necessidade de um pastor integral, e William Seymour foi recomendado por uma prima da Sra. Asbery. O nível do relacionamento entre eles cresceu a ponto de Seymour pedir conselhos para Mason sobre seu interesse em se casar com Jennie Moore, uma linda e inteligente negra de origem etíope; o que aconteceu numa cerimônia particular, realizada pelo Elder Edward Lee, tenho como única testemunha a esposa de Elder Lee. Mason não somente aconselhou positivamente o casamento de Seymour com Jennie Moore, como antes, desencorajou o relacionamento de Seymour com Clara Lum, uma mulher branca, editora do jornal Fé Apostólica. O que mais tarde resultou em no fim do avivamento da Rua Azusa, pois Clara Lum se vingou de Seymour levando consigo para Portland, os vinte e dois mailing list cuidadosamente coletadas nos quatro anos anteriores, o que impediu a Missão da Rua Azusa expressar sua voz para seus apoiadores ao redor do mundo.

SUA CISÃO HISTÓRICA

A nova experiência pentecostal de Mason foi trazida por ele de volta ao Sul do Estados Unidos, como totalmente apoiada pelo Novo Testamento. Todavia, uma divisão foi inevitável. Vista como ilusão, a glossolalia foi rejeitada por C.P. Jones e os demais líderes da igreja ao lado de Mason, e de certa forma, estes retiraram a “mão direita de comunhão” uma vez estendida a Mason. Rapidamente, Mason conclamou uma assembléia com aqueles que criam na experiência do falar em línguas, como sinal do batismo no Espírito Santo de acordo com Atos 2:1-4. Os que apoiaram seu ensino e responderam positivamente a convocação foram E. R. Driver, J.Bowe, R.R. Booker, R. E. Hart, W. Welsh, A. A. Blackwell, E. M. Page, R.H. I. Clark, D. J. Young, James Brewer, Daniel Spearman e J. H. Boone. Estes homens organizaram a primeira Assembléia Geral da Igreja de Deus em Cristo e unanimemente escolheram o Bispo Mason como supervisor geral e apóstolo chefe da denominação. Ele recebeu autoridade total para estabelecer a doutrina, organizar departamentos auxiliares e nomear supervisores. O nome “Igreja de Deus em Cristo” permaneceu com o Bispo Mason, porque foi a ele que Deus revelou o nome baseado em I Tessalonicenses 2:14, enquanto orava nas ruas do Arkansas em 1897.

SEU ESTRONDOSO CRESCIMENTO

Com a paixão e compromisso do Bispo Mason para com a pregação do Evangelho da salvação, santificação e agora, poder do Espírito Santo, a igreja cresceu de 10 congregações em 1907, para mais de doze mil congregações. Entre 1900 e 1061, Mason viu a Igreja de Deus em Cristo se tornar numa denominação afro-americana nacional, e em grande parte urbana. Desde o seu humilde princípio nas regiões do Rio Mississipi, os colaboradores de Mason – homens e mulheres – viajavam para as cidades industriais do norte para evangelizar as massas que migravam em busca de oportunidades melhores. Entre 1912 e 1914, o Bispo Mason enviou obreiros para o Texas, Kansas, Missouri, Illinois, Ohio, Nova Iorque, Califórnia, Michigan, etc. A expansão internacional da Igreja de Deus em Cristo remete aos idos de 1927, quando uma convocação foi feita para que obreiros se disponibilizassem para terras estrangeiras. A irmã Mattie McCaulley de Tulsa, Oklahoma foi a primeira se apresentar e foi enviada para Trinidad umas das ilhas das Índias Ocidentais. Ela também passou um tempo em Costa Rica e então voltou para casa. A partir deste simples início, a Igreja de Deus Cristo deu seus primeiros passos rumo à conquista que hoje conhecemos como 57 países do mundo, dentre eles, o Brasil. A igreja conta mais de 260 jurisdições espalhadas por todo mundo, tendo é claro, sua grande concentração nos Estados Unidos da América, onde é reconhecida como a quarta maior denominação cristã, e primeira pentecostal naquele país.

CONCLUSÃO

A história da Igreja de Deus em Cristo guarda ainda muito mais detalhes que é impossível serem compartilhados em uma lição condensada. Há muito que se pode ser dito sobre a influência da liderança do Bispo Charles Mason, o preço pago no início, suas vitórias, perseguições e sua morte; muito deve ser dito sobre o trabalho das mulheres, reconhecido como o ministério mais eficaz da COGIC desde seu início, com a Matriarca Lizzie Robinson. Muito há para ser dito sobre sua influência no estilo de adoração, impacto em missões, capacitação e valorização do ser humano e vitória sobre a mentalidade escrava. Mas cremos que a medida em que compartilhamos mais detalhes desta linda história, a Igreja de Deus em Cristo no Brasil poderá ir muito além de onde tem chegado, tendo em vista o legado de fé e virtude para nós deixado por tão excelentes líderes e desbravadores do passado. Este é o tempo.



quinta-feira, 25 de julho de 2013

REINANDO EM VIDA


Ao longo dos séculos, e especialmente em nossa geração tem havido grande controvérsia referente ao conceito de prosperidade do viver cristão. Alguns teólogos ultra-ortodoxos e conservadores sustentam a tese de que o cristão está condicionado a viver o mesmo tipo de sujeição à escassez, opressões e calamidades da humanidade sem Deus. Em contrapartida, há os que crêem que baseados em princípios bíblicos e fidelidade à Deus, o cristão pode e deve viver em um nível diferenciado de abundância, liberdade e prosperidade. Certamente há extremos nestas duas vertentes teológicas, um extremo derrotista e um extremo triunfalista.
O equilíbrio e a verdade residem na busca do propósito original de Deus para a existência humana. Descobrir o que Deus espera que sejamos Nele, por Ele, e através Dele aqui na Terra. Para isso necessitamos que “o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação, tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder...” (Efésios 1:17-19). Jesus Cristo é o nosso Rei, por isso, Ele é chamado Rei dos reis. Assim, surge a indagação: Quando reinaremos? Num suposto “reinado milenar do porvir”? Quando Cristo vier fisicamente? Ou este reinado seria para agora? É disto que trata o Evangelho do Reino: De uma nova espécie recriada em Cristo para reinar em vida por Ele.
 
À SEMELHANÇA DE DEUS PARA GOVERNAR

A maior obra de Deus foi ter criado um ser semelhante a si próprio para executar uma tarefa real e exercer uma função real que somente Ele mesmo, com toda sua glória divina poderia fazê-lo. Deus não desejava deixar o céu, mas fazer da Terra uma extensão exata do céu. Como um grande rei que desejando dar a seu filho um reinado, o envia para uma colônia para reinar. Devemos nos lembrar que “os céus são céus do Senhor; mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens.” (Salmo 115:16). Príncipes só se tornam reis de duas maneiras: ou quando seu pai, o rei morre, ou quando seu pai, o rei o envia para reinar em uma extensão (colônia) do reino. Como Deus não pode morrer e deseja que seus filhos reinem, Ele os enviou à Terra. E a única coisa que nos propicia reinar aqui na Terra, é a restauração da nossa natureza divina (I Pedro 1:4). Eis como Deus projetou o nosso reinado: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine...” (Gênesis 1:26a). A forma e o propósito de Deus na criação do homem revelam o Seu plano original e imutável. Gênesis é a narrativa de como Deus espera que tudo seja; é a expressão clara e exata de como Deus quer que o universo funcione em relação ao ser humano, para o qual tudo converge por Cristo. Dominamos (hb. “hada” = reino, soberania, governo.) porque somos feitos à imagem do Grande Dominador; reinamos porque somos feitos à imagem do Grande Rei. Mas eis aqui o nível deste domínio: Deus não criou homens para dominar sobre homens, e sim sobre o cosmos. “...domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se mova sobre a terra.” (v. 26b). Adão tinha domínio sobre sua “área cosmológica”, agora, com alguns bilhões de “Adãos” a mais no planeta, precisamos descobrir e governar sobre nosso domínio pessoal. Tudo isso porque somos como Deus em natureza. “Eu disse: Vós sois deuses, e vós outros sois todos filhos do Altíssimo.” (Salmo 82:6). “Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada).” (João 10:34-35).  

CRIADOS PARA FRUTIFICAÇÃO

Após criar o homem a narrativa do Gênesis (1:28) expressa: “E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai...” É fato, a perfeita vontade de Deus é que o homem criado à sua imagem e conforme a sua semelhança seja sempre um SER FRUTÍFERO (João 15:8). Note que o homem é, em primeira análise, o elemento passivo desta frutificação, pois ele é o “solo” no qual o Criador deposita suas melhores sementes, ou seja, Deus semeou na natureza do homem o dom da fertilidade em todos os aspectos. A semente semeada por Deus no homem é a sua Palavra, e é esta palavra que faz germinar e frutificar o caráter de Deus no homem. Este é o segredo no Novo Nascimento, “Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas.” (Tiago 1:18). Assim como fomos naturalmente gerados do sêmen masculino introjetado no óvulo feminino, somos agora, em Cristo, espiritualmente de novo gerados da semente da Palavra de Deus introjetada no coração humano (I Pedro 1:23). O apóstolo Paulo preocupado com o nível de maturidade espiritual da liderança episcopal da Igreja de Éfeso, exortou o jovem pastor Timóteo na seleção dos obreiros: “não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.” (I Timóteo 3:6). A palavra neófito (Gr. neophutos; neo=novo e phutos=plantado) significa literalmente: “recentemente plantado”, ou seja, aquele que ainda não frutificou, ou que não manifestou frutos. O processo espiritual de frutificação é obra do Espírito Santo no homem recriado. É o fruto do Espírito brotando de uma vida regenerada e semelhante a Jesus Cristo (Gálatas 5:22). Nosso estado recriado de frutificação espiritual é um ato da escolha soberana de Deus, e condiciona o relacionamento de doação Dele para conosco (João 15:16). É paradoxal que um cristão que se diz “nascido de novo” não desenvolva uma vida santificada e separada do pecado, pois “...agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna.” (Romanos 6:22). A frutificação é um processo constante e abundante na vida dos filhos do Reino, que, quando paralisado pelo pecado deve ser desobstruído pelo castigo e a correção divina (Hebreus 12:11). 

CRIADOS PARA MULTIPLICAÇÃO

Pode-se dizer que a frutificação é um processo de aperfeiçoamento da espécie criada por Deus, já a multiplicação é o processo de reprodução dessa espécie. “E Deus os abençoou e Deus lhes disse: ...multiplica-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a...” (Gênesis 1:28). De fato, à princípio a ordem de Deus de MULTIPLICAR foi literal, pois Deus esperava realmente que houvesse muitos daquele espécime humano perfeito criado à sua imagem para sujeitar a terra; Deus, porém, não desejava que a espécie caída e pecaminosa crescesse, pois esta “espécie adâmica” se tornaria uma praga (Gênesis 6:1-7). Agora com uma terra hiper populosa, Deus não espera que cada velho homem encha a terra de filhos biológicos com a natureza contaminada pelo Pecado, mas sim, que cada novo homem com a natureza de Deus (II Coríntios 5:17; Efésios 2:14-15) encha a terra de filhos espirituais à imagem de Cristo (Marcos 16:15; Gálatas 4:19). Esta é a verdadeira essência do discipulado cristão: o cumprimento da comissão divina original de crescer e multiplicar. Discipular é reproduzir a Espécie Real, aumentando a Família Real de Deus, É “fazer” novas criaturas. “...ide, fazei ‘novas criaturas à imagem do Último Adão’ de todas as nações...” (Mateus 28:19). Assim, Jesus assevera que qualquer que não se identificar com sua vida, morte e ressurreição, não pode ser à sua imagem (Lucas 14:26). O pacto abraâmico torna-se agora revelado no aumento de filhos espirituais gerados pela promessa de Deus a Abraão, “...pois, os que são da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.” (Gálatas 3:7-9). A promessa à Abraão era: “...Certamente, abençoando, te abençoarei e, multiplicando, te multiplicarei.” (Hebreus 6:13-14; Gênesis 12:1-3). Os judeus sempre acreditaram que este pacto somente dizia respeito a eles como nação, porém, em Cristo, esta promessa se estende a todas as etnias formadas por novas criaturas da espécie do Último Adão, Jesus Cristo. O poderoso fluxo de crescimento da Igreja Primitiva, que será superado pela Igreja dos tempos do fim, consistia na multiplicação da semente (Atos 12:24) para a conseqüente multiplicação da Nova Espécie recriada. “de sorte que as igrejas eram confirmadas na fé e cada dia cresciam em número” (Atos 16:5). Podemos contar neste tempo do fim, com a maior semeadura e colheita do Evangelho do Reino em todas as épocas (Mateus 24:14). Sim, a iniqüidade se multiplicará (Mateus 24:12), mas os filhos do Reino se multiplicarão ainda mais, como o fermento (Lucas 13:20-21).      

ESTE REINADO É PARA ESTA VIDA

É de fato uma atitude mental deplorável esperar em Cristo somente para esta vida (I Coríntios 15:19), mas, não há suficiente respaldo bíblico para crermos as promessas divinas de frutificação, multiplicação e Reino, são para a “vida após a morte”. É evidente que o ápice do Reino de Deus na Terra dar-se-á por ocasião de seu Retorno, “Depois, virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés.” (I Coríntios 15:24-25). O Novo Nascimento (João 3:3) é o começo da vida eterna, é a fonte que jorra para a vida eterna (João 4:14), porém, os poderosos rios do Espírito Santo fluem em nosso ventre em nossa vida terrena (João 7:38-39), e estes rios são o suprimento divino para, como frutificadores e multiplicadores, sujeitemos a terra e a dominemos como é a vontade original de Deus (Gênesis 1:28). Nosso maior grau de governo é sobre nosso DOMÍNIO PESSOAL, ou seja, à nós mesmos, e as coisas e situações que dizem respeito à nossa realidade. Isto não significa um triunfalismo antropocêntrico, mas em primeira instância um domínio sobre si mesmo (Provérbios 16:32), ou seja, reinar sobre todo sentimento nocivo comum ao velho homem caído, assim o fruto do Espírito (Gálatas 5:22) é o governo sobre as obras da carne que nos excluem do Reino de Deus (Gálatas 5:19-21); e sobre sua casa constituída (I Timóteo 3:4). Exercemos também nesta vida, o governo sobre os apelos do sistema mundial corrompido (I João 5:4), o pecado (I João 3:8-9), e as trevas (Lucas 10:19). Não se prive da graça de Deus (Hebreus 12:15), mesmo em meio às aflições que serão inevitáveis nesta vida (João 16:33), é nesta vida que os filhos de Deus reinarão e farão proezas em Deus (Salmo 60:12), o Reino é agora. “Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.” (Romanos 5:17).

Conclusão

Os extremos da teologia triunfalista têm se mostrado danosos para a Igreja de Cristo, retardando seu amadurecimento em amor e piedade com contentamento. Porém, este contentamento bíblico não deve ser visto como um conformismo derrotista, pois os elementos do Reino de Deus gerados na redenção são poderosos para suprir abundantemente cada área de nossas vidas em Cristo. Este é um tempo maravilhoso de revelação espiritual para a Igreja do Senhor; as Escrituras se tornarão cada vez mais vivas sem destruir o aspecto sadio da ortodoxia teológica. Nós somos “...a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (I Pedro 2:9).


                                                                            Enéas Ribeiro