INTRODUÇÃO
O fundamento histórico-teológico da
doutrina da santidade e santificação da Igreja de Deus em Cristo remonta a
experiência e os ensinos do pai do metodismo, John Wesley em meados do século
XVIII. Wesley apresentou aos seus seguidores a “segunda benção”, a qual ele
chamava de “santificação plena”, uma experiência de crise momentânea, que ele
também denominou “amor perfeito” e “perfeição cristã”. Essa doutrina
transcendeu o tempo e, mesmo sofrendo diversas modificações teológicas, teve
seu cerne preservado por algumas importantes denominações, em especial a COGIC.
ORIGENS
HISTÓRICAS NO MOVIMENTO HOLINESS
Holiness (santidade) foi o nome
dado a um “pré-movimento pentecostal” que exerceu grande influência na
espiritualidade pentecostal como a conhecemos. E a principal marca dessa
espiritualidade do século XIX foi a implantação dos acampamentos holiness, que
tiveram origem em áreas remostas dos Estados Unidos, tendo início no condado de
Logan em Kentucky. Esse movimento começou espontaneamente entre presbiterianos
e metodistas, no ambiente rural da Igreja Presbiteriana de Cane Ridge. Pessoas
vinham de longe para presenciar e experimentar os “exercícios”, como eram
chamados. Milhares se convertiam e eram muitas vezes envolvidos em
manifestações como “cair no poder”, “tremores”, “riso santo” e “dança do
Espírito”. Mas a expectativa comum aos entusiastas era a experiência da
santificação. Estas manifestações e a doutrina foram incorporados na Missão da
Fé Apostólica da Rua Azuza, com plena aprovação e endosso de Seynour. Na Rua
Azuza além da mensagem do batismo no Espírito Santo com a evidência do falar em
outras línguas e da ativação dos dons do Espírito, a pregação era enfática
acerca da santidade e da santificação, mensagem que viria a ser a tônica da
pregação pioneira do Elder Charles Harrison Mason.
SANTIFICAÇÃO
NA MISSÃO DA FÉ APOSTÓLICA
Através dos anos os pentecostais
têm sido identificados por vários nomes. Embora muitas das igrejas pentecostais
dos Estados Unidos fossem conhecidas como “igrejas holiness”, o primeiro grupo
estritamente pentecostal utilizava variações do nome Fé Apostólica. Esse foi,
por exemplo, o nome escolhido por Charles Fox Parhan para seu pequeno grupo em
Topeka, por ocasião da descida de Pentecoste em 1901. Seu principal discípulo,
William Seymour adotou o mesmo nome para a Missão da Rua Azuza: Missão
Evangélica da Fé Apostólica. E a característica comum a estas denominações era
praticamente a mesma dos acampamentos holiness, com ênfase na mensagem da
santificação. A idéia de “Fé Apostólica” aponta para a doutrina da restauração
dos carismas (dons) anatematizados pelo cessacionista Agostinho de Hipona que
declarou: “Por que, pergunto, não ocorrem mais milagres em nossos dias, como
acontecia nos tempos antigos? Respondo que eles eram necessários na época,
antes que o mundo viesse a crer, para que o mundo fosse convencido.” No rigor
da teoria agostiniana contra os excessos do Montanismo, Agostinho chegou a
atribuir toda manifestação carismática do período pós-apostólico a demônios; a
outra crença fundamental da Fé Apostólica, era na doutrina completa dos
apóstolos que culminava com a imitação de Cristo como padrão elevadíssimo e
absoluto de perfeição e plenitude de vida.
BISPO
MASON E A MENSAGEM DA SANTIFICAÇÃO
O lendário pregador holiness
Charles Harrison Mason, que viria a ser o fundador e primeiro bispo sênior da
maior igreja pentecostal dos Estados Unidos, começou seu ministério cristão em
1893 na Igreja Batista Mt. Gale em Preston, Arkansas. Em Novembro de 1893
matriculou-se na Faculdade Batista de Little Rock, devido ao seu conhecimento
bíblico, logo ficou insatisfeito com o currículo e deixou a escola após três
meses. Um dia, andando pela rua em Little Rock ouviu a voz do Espírito de Deus,
que dizia: “Pregue a Santidade, pregue a santidade. Edifique a Igreja de Deus.
E se você usar o nome que eu te der, ‘A Igreja de Deus em Cristo’, eu vou te
usar. Nunca haverá um lugar grande o bastante para acomodar o povo que virá
para te ouvir pregar.” A mensagem do Bispo Mason era carregada de poderosa e
veemente exortação à santidade e à separação do mundo, mensagem que construiu a
espinha dorsal da base doutrinária da Igreja de Deus em Cristo: (1) Santidade;
(2) Santificação; (3) Batismo no Espírito Santo; e (4) O falar em línguas
conforme o Espírito concedia. A Santificação era ministrada como uma poderosa
obra especial da graça de Deus, e a Santidade era o compromisso gradual de cada
cristão salvo e santificado.
A
TRÍPLICE SANTIFICAÇÃO DO CRENTE
A verdade teológica é uma
construção do Espírito de Deus ao longo dos séculos. Os concílios tiveram seu
papel fundamental para a sistematização das doutrinas cardeais da Bíblia
Sagrada, mas é do Autor da Bíblia, o Espírito do Senhor, que extraímos a
verdade suprema. A Doutrina da Santificação passou por reformulações na
história, especialmente na história pentecostal. Hoje, entendemos a
Santificação do crente à luz das Sagradas Escrituras como tríplice: (1)
Santificação Posicional. No estado posicional a Santificação é completa e
perfeita, assim, pela fé em Jesus Cristo e na obra do calvário, o homem
torna-se santo, perfeitos aos olhos de Deus (Ef 2:6; Cl 2:10), não estamos mais
sujeitos à acusações legais, pois a santidade divina passa a ser nossa
santidade (Rm 8:33-34; I Jo 4:17). (2) Santificação Progressiva. É a responsabilidade
de cada cristão posicionalmente santificado de condicionar sua existência
terrena a um viver santo, à altura da santidade herdada, esta santificação deve
ser constantemente aperfeiçoada (II Co 7:1). Esta Santificação também possui
uma influência divina, através do Sangue de Jesus (Hb 13:12; I Jo 1:7, 9), da
Palavra de Deus (Sl 12:6; 119:9; Jo 17:17; Ef 5:26), do Espírito Santo (Rm 1:4;
I Pe 1:2; II Ts 2:13), da Fé (At 26:18; Rm 4:11; Fl 3:9; Tg 2:23), e da Glória
de Deus (Êx 29:42; II Cr 5:13-14).Ler também I Pe 1:15. (3) Santificação
Eterna. Também chamada Santificação Futura, é o estado eterno final dos
escolhidos e santificados do Senhor; expressa muito bem nas palavras do
discípulo amado: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o
que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele; porque assim como é o veremos.” (I Jo 3:2). A Santificação
Eterna é a restauração plena e absoluta do estado original do homem criado à imagem e semelhança de Deus, com
todos os recursos da natureza outra vez perfeitos e sujeitos à sua autoridade
(Gn 1:26-28); é o que nos reserva a experiência da Santificação Posicional e a
prática da Santificação Progressiva. Ler também Ef 5:27; I Ts 3:13; 5:23
PORQUE
DEVEMOS NOS SANTIFICAR
Parece redundante expor
teoricamente porque devemos nos santificar, mas a Bíblia declara pelo menos
três razões: (1) Porque é a vontade de Deus. O maior anseio de um cristão
verdadeiramente nascido de novo deve ser buscar fazer constantemente toda a
vontade de Deus. Este é o legado espiritual da Igreja de Deus em Cristo
expresso em sua canção oficial “Yes Lord”, é a alma do crente dizendo sempre
sim a perfeita vontade de Deus. (I Ts 4:3); (2) Para que vejamos a Deus. O fim
e a motivação crucial da fé deve ser a plena comunhão com a divindade, e todos,
latentemente desejam ver esse Deus, e mesmo sabendo que a plenitude dessa
divindade materializou-se na pessoa de Jesus Cristo (Jo 14:9; Cl 2:9), e que
existe uma restrição “teológica paulina” para tal (I Tm 6:16) ainda assim,
desejamos naquele dia ver. (Hb 14:12); Para imitarmos a Deus. Nenhum homem pode
ser modelo para a Igreja sem ter seu modelo em Jesus Cristo (I Co 11:1; Ef
5:1), e nenhuma Igreja poderá ser modelo para os homens sem antes ter seu
modelo em Deus; O Bispo Charles Mason adotou como texto áureo da COGIC I Ts
2:14ª NVI. “Porque vocês, irmãos, tornaram-se imitadores das igrejas de Deus em
Cristo...” (I Pe 1:16); (4) Para que Deus faça obras maravilhosas.
Evidentemente os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento (Rm 11:29),
porém, nota-se que para Deus intervir sobrenaturalmente em situações extremas
em favor de seu povo, é preciso mais do que o dom de operação de maravilhas (I
Co 12:10a), se faz necessário que seu povo se santifique, pois a manifestação
da operação miraculosa de Deus é santa. Bispo Mason pregava mensagens similares
à de Josué: “Disse Josué também ao povo: Santificai-vos, porque amanhã fará o
Senhor maravilhas no meio de vós.” (Js 3:5)
CONCLUSÃO
Gloriamo-nos em Deus por nos ter
legado a mensagem da santidade, e por ajudar a preservar esta mensagem por mais
de cento e dez anos de história da Igreja de Deus em Cristo. Como membros de
nossa amada igreja, temos a responsabilidade pessoal e coletiva de difundir um
evangelho de renúncia e separação, em oposição aos “evangelhos alternativos”
que têm permeado a cristandade moderna. Conheçamos nossa história, conheçamos
nosso legado e conheçamos a doutrina apostólica, especialmente a da
Santificação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário